Tuesday, July 12, 2011

Da alegria e do prazer

Sou pequena, magrinha, estrutura fràgil, como pouco e ainda por cima sou vegetariana. Subir uma montanha a pique e depois desce-la durante 6 horas a pé sem uma pausa para petiscar (isto depois de 1 dia inteiro de viagem num landcruiser nos caminhos mais esburacados do mundo) poderia bem ter como veridicto final um pedido de demissao directo. As lagrimas escorriam-me pelo rosto quando estava na recta final e me disseram que ainda tinha que atravessar uma "ponte" em lianas com um rio gigantesco debaixo dos meus pés. As minhas pernas estavam rebentadas, nao tinha equilibrio e naquele dia (como noutro qualquer) nao me apetecia morrer. Nao havia outra hipotese, eu tinha que atravessar aquela ponte e fazer confianca na capacidade de equilibrio das minhas pernas. Era isso ou andar para tràs 5 horas: isso era impensavel. Atravessei. Sobrevivi. Comi feijao com arroz. Montei a rede mosqueteira. Lavei-me com agua do rio. Bebi muita agua. Dormi. De manha ao pequeno almoco o menu era: feijao com arroz e cabeca de cabra. Nao consegui comer. Pusemo-nos em marcha durante mais 3 horas, fizemos o nosso trabalho e regressamos (mais 3 horas). Nem uma pitada de comida entrou no meu estomago. Aqui nao se come durante o dia. Nao ha restaurantes. Ou andas com um farnel às costas ou andas com agua às costas: a agua torna-se um imperativo, o farnel nem por isso. De regresso à base e às tendas, como feijao com arroz, desta vez sabe-me mesmo bem. Durmo. Na manha seguinte, sei que "no matter what" tenho que comer feijao com arroz se quero sobreviver. Como, o meu estomago aguenta. Pomo-nos em marcha novamente. Ao fim do dia sentamo-nos à espera da comida. O corpo sente-se tao relaxado e penso: andei horas a fio, o meu corpo esta exausto, mas agora posso descansar, posso sentar-me aqui, as minhas pernas nao têm que fazer mais esforco, o sol nao esta tao forte. A alegria de ir às compras, de sair, de estar com amigos, de estar com a familia, de comer comida maravilhosa e bolo de chocolate nao se compara ao que senti naquele momento. Em situacoes de dificuldade extrema a felicidade quando chega é arrebatadora. Chorei de alegria… pelo simples facto de saber que naquele dia as horas de marcha tinham acabado, havia mais a fazer no dia seguinte, mas agora, ali naquele momento, o sol nao me comia viva, a fome nao me fazia sinais na barriga, e as pernas estavam quietas.

Acho que descobri o motivo pelo qual as pessoas aqui sao felizes. Nao ha tempo para pensar, ou desejar coisas ou mesmo sonhar com algo extraordinario. Ha simplesmente cada momento, intensamente vivido, com cada gota de suor. Podemos ansiar por mais, nós, nas nossas casas luxuosas, nas nossas cidades cheias de facilidades, na moda, na cultura, na estetica, no cinema, no glamour, na fama, no dinheiro, nas conversas intelectuais…. nao ha nada de mal em tudo isso, hà prazer mesmo. Mas nunca senti prazer igual ao que sinto cada vez que regresso destas visitas de terreno. This much I've learned here in Congo, an its so worth the effort and pain.