Friday, September 23, 2011

Zanzibar

Um dos muitos privilégios do meu trabalho é poder ir de férias a sitios lindos, sem ter que pagar uma fortuna (de Dubai às Seychelles foi facil e barato... mesmo se para chegar ao Dubai vinha do Afeganistao, do Congo ao Zanzibar são umas horitas e 500 EUR e jà està).

Aconselho vivamente o Zanzibar... para quem tem 2 semanas, vale a pena fazer uma semana de férias nos safaris da Tanzania ou Kenya e depois alapar o rabo nas praias de Zanzibar. Para quem tem somente 1 semana - vale a pena passà-la toda no Zanzibar - porque Stone Town, é simplesmente divinal. E quem for a Stone town fiquem no Mashariki Palace Boutique Hotel!! O melhor hotel de todos os tempos, qual Meridien das Seychelles...




Tuesday, July 12, 2011

Da alegria e do prazer

Sou pequena, magrinha, estrutura fràgil, como pouco e ainda por cima sou vegetariana. Subir uma montanha a pique e depois desce-la durante 6 horas a pé sem uma pausa para petiscar (isto depois de 1 dia inteiro de viagem num landcruiser nos caminhos mais esburacados do mundo) poderia bem ter como veridicto final um pedido de demissao directo. As lagrimas escorriam-me pelo rosto quando estava na recta final e me disseram que ainda tinha que atravessar uma "ponte" em lianas com um rio gigantesco debaixo dos meus pés. As minhas pernas estavam rebentadas, nao tinha equilibrio e naquele dia (como noutro qualquer) nao me apetecia morrer. Nao havia outra hipotese, eu tinha que atravessar aquela ponte e fazer confianca na capacidade de equilibrio das minhas pernas. Era isso ou andar para tràs 5 horas: isso era impensavel. Atravessei. Sobrevivi. Comi feijao com arroz. Montei a rede mosqueteira. Lavei-me com agua do rio. Bebi muita agua. Dormi. De manha ao pequeno almoco o menu era: feijao com arroz e cabeca de cabra. Nao consegui comer. Pusemo-nos em marcha durante mais 3 horas, fizemos o nosso trabalho e regressamos (mais 3 horas). Nem uma pitada de comida entrou no meu estomago. Aqui nao se come durante o dia. Nao ha restaurantes. Ou andas com um farnel às costas ou andas com agua às costas: a agua torna-se um imperativo, o farnel nem por isso. De regresso à base e às tendas, como feijao com arroz, desta vez sabe-me mesmo bem. Durmo. Na manha seguinte, sei que "no matter what" tenho que comer feijao com arroz se quero sobreviver. Como, o meu estomago aguenta. Pomo-nos em marcha novamente. Ao fim do dia sentamo-nos à espera da comida. O corpo sente-se tao relaxado e penso: andei horas a fio, o meu corpo esta exausto, mas agora posso descansar, posso sentar-me aqui, as minhas pernas nao têm que fazer mais esforco, o sol nao esta tao forte. A alegria de ir às compras, de sair, de estar com amigos, de estar com a familia, de comer comida maravilhosa e bolo de chocolate nao se compara ao que senti naquele momento. Em situacoes de dificuldade extrema a felicidade quando chega é arrebatadora. Chorei de alegria… pelo simples facto de saber que naquele dia as horas de marcha tinham acabado, havia mais a fazer no dia seguinte, mas agora, ali naquele momento, o sol nao me comia viva, a fome nao me fazia sinais na barriga, e as pernas estavam quietas.

Acho que descobri o motivo pelo qual as pessoas aqui sao felizes. Nao ha tempo para pensar, ou desejar coisas ou mesmo sonhar com algo extraordinario. Ha simplesmente cada momento, intensamente vivido, com cada gota de suor. Podemos ansiar por mais, nós, nas nossas casas luxuosas, nas nossas cidades cheias de facilidades, na moda, na cultura, na estetica, no cinema, no glamour, na fama, no dinheiro, nas conversas intelectuais…. nao ha nada de mal em tudo isso, hà prazer mesmo. Mas nunca senti prazer igual ao que sinto cada vez que regresso destas visitas de terreno. This much I've learned here in Congo, an its so worth the effort and pain.



Saturday, May 7, 2011

Loser

Quero acreditar que todos nós um dia já nos sentimos verdadeiros losers. Por um motivo ou outro, num contexto X ou Y, dizemos algo que não tem graça nenhuma, encontramo-nos no meio de uma conversa em que não percebemos patavina, tentamos dar o nosso ponto de vista mas na verdade ninguém está nem ai para o que temos a dizer, etc. Quer dizer, conheço pessoas que parecem tão perfeitas que acho que nunca se sentiram losers… não é o meu caso… já tive a minha dose bem carregada de loserismo.

De todos os loser moments que tive na minha vida, acho que estas 2 primeiras semanas em Bukavu (escrevo da Republica Democratica do Congo, na fronteira com o Rwanda – no fundinho da jungle) tenham sido as mais losers dos últimos tempos. Talvez, agora que me ponho a pensar… este é o sentimento loser com maior continuidade: 2 semanas. Às vezes sinto-me loser por 2 minutos, 2 horas, mas 2 semanas seguidinhas é recorde para mim.

Primeiro… não sei bem porquê (chego aos trinta e descubro finalmente que sou uma boring ass) as pessoas que tenho vindo a conhecer estão-se deveras a cagar para mim. Tipo, eu estou habituada a entrar numa festa e passado 2 ou 3 minutos já estar à conversa com alguém que me pergunta de onde venho, o que faço, and so on and so on… e depois trocamos número de telefone e depois combinamos ir passear de barco ou ir ao único café da localidade. Convenhamos, neste mundo humanitário não somos assim tantos e não há muito para fazer, por isso é relativamente fácil fazer amigos. Anyway, aqui não é o caso… as pessoas não querem mesmo mesmo saber de mim… e por muito que eu ponha um sorriso fofinho e faça perguntas… elas respondem, viram a cara e lá vão todas lampeiras falar com outra pessoa qualquer com coisas mais interessantes para dizer. Sou portanto aos olhos de todas estas pessoas uma boring loser… e como elas são muitas (pessoas) e eu só uma, devo concluir que sou deveras isso mesmo.

Mas mais loser que não ter a capacidade de prender a atenção das pessoas à nossa conversa, ou à nossa pessoa… é passar o dia a olhar para o facebook. Que foi exactamente o que fiz hoje. Não havia trabalho, mesmo nenhum – coisa raríssima por estes lados. Li emails, respondi, memorizei o mapa de Kivu Sul e dos territórios onde trabalhamos… e depois encontrei-me sem nada para fazer. E em vez de ler noticias ou sei lá ler artigos sobre as próximas eleições no Congo e coisas aborrecidas desse género… colei-me ao facebook como a maior loser de todos os tempos. E agora é sexta à noite…. e estou a escrever no blogue porque, como boa loser, não tenho mais nada para fazer.

Tuesday, September 28, 2010

Fazem literalmente 40 graus la fora e ja estamos no final de Setembro. O ar condicionado nao funciona, a ventoinha deu o berro e nao ha sinais de qualquer brisa a passar pela minha janela. O ceu esta meio nublado, preve-se uma tempestade de areia (dust storm) para amanha. Aquele sentimento de aventura, de estar no terreno a contemplar o deserto Iraquiano, as exploracoes petroliferas ao longe, as filas de carros blindados e soldados americanos, as visitas aos campos de refugiados…. Esse sentimento perdeu-se algures, nao sei bem onde . Instalou-se a vida quotidiana, a monotonia, aquilo que nos leva a esquecer que ha menos de meia duzia de anos este territorio foi palco de guerras sangrentas. Que aqui mesmo ao lado raros sao os dias em que nao morre um official num atentado a bomba. Agora o que importa e: o menu para o almoco, o menu para o jantar, a festa de fim de semana, em que restaurante vamos jantar na quinta, se temos green light para ir ao bar da esquina, se algum dia vou casar ou se fico para tia, se o amor existe mesmo, se ha algo como o homem ideal, se nao estarei a perder o meu tempo aqui em vez de estar a gozar a vida ao lado da minha familia, que sinto a falta dos meus amigos, que quero ecomprar roupas giras e ir ao spa, que o queria mesmo era ter sido bailarina ou actriz, musica ou pintora ou outra coisa qualquer assim ligada as artes que me permitisse exprimir coisas que nao se experimem por palavras , que estrategia louca poderei arranjar para um dia poder viver em Nova Iorque.

E assim… ao analisar todos estes pensamentos que me passam pela cabeca, pergunto-me se mereco receber emails de amigos e familia a dizer que admiram o trabalho que aqui faco.
A unica coisa que vale mesmo a pena e poder ter um contacto directo com o staff local, poder partilhar e aprender. Vou levar muito mais daqui do que algum dia poderei oferecer ao povo Iraquiano.

Sunday, July 25, 2010

Talvez a pior sessao de fotos que alguma vez fiz das minhas ferias.... mas mesmo assim vale a pena ir ate Bozzcada!!!





Parece quase o Algarve, com a diferenca que:

- e uma ilha na Turquia

- o mar e mais quentinho e sem duvida mais transparente

- turistas que existem sao no minimo um terco dos que se ve no Algarve e os que existem sao locais (aumenta logo o nivel de turismo devo dizer)
- so existe uma vila pequenina na ilha, com o charme de Monchique (menos aquelas casas modernas ranhosas que os arquitectos da CMM decidiram deixar construir um pouco por todo o lado, mesmo ate no centro da vila- mas pronto, nao falemos de desgracas)
Pena nao ter mais fotos, mas em breve coloco umas fotos de Istanbul!!!

Tuesday, June 29, 2010

Isolation Effect ou como ficar maluquinho...

Eu bem que quero escrever em Portugues, quero mesmo, mas nao tenho acesso a quaisquer acentos neste pc, o que faz parecer o meu portugues (ja bastante enferrujado) uma coisa ridicula. Avante. Estamos aqui tao isolados que a unica forma de nos conectarmos ao mundo e partilharmos o que sentimos e vivemos e atraves de skype, emails e para os mais arrojados e desprovidos de sentimentos estilo: privacidade e exclusividade de partilha de informacao – Blog. Mas o meu grande pecado e mesmo o Facebook. E que com facebook eu nem preciso de blog, qualquer coisinha so me ligo a ele e posso saber tudo o que se passa la fora (tudo tudo nao – mas tenho feito umas descobertas). Por exemplo descobri que o meu ex-italiano (lindo de morrer) se casou este weekend com uma Espanhola. C%&^* se nao ganharmos este jogo contra Espanha… nem sei, a minha motivacao e tao grande mas tao grande de os ver perder que vou andar aos guinchos aqui no bar da localidade.

Outra coisa me faz escrever menos no blog – o facto de ter um montao de amigos que estao aqui mesmo na casinha ao lado a mao de semear. E por este motivo passo menos tempo sozinha e por passar menos tempo sozinha da-me menos para pensar na vida e mais para vive-la na realidade. Isto nao quer dizer que eu tenha muito para fazer… a unica coisa e que o tempo que tenho passo-o com as mesmas pessoas – sempre as mesmas. Logo o que fazemos? Pouco devo dizer. Aqui sempre temos uma pista de patinagem (insolito), bowling, bar e uma piscina por isso da para o gasto basico basico. Mas quando o fim de tarde chega, os DVDs se esgotaram e estamos em frente das mesmas pessoas que conhecemos e vemos diariamente ha mais de 5 meses e preciso puxar pela imaginacao.

Ahhh, e imaginacao devo dizer e coisa que nao nos falta. Fizemos comida portuguesa (mas substituimos o bacalhau por frango – nhami), um “food contest” e um “stupidity contest” tudo no mesmo serao. Ora havera coisa mais estupida que snifar po de pimento vermelho? (experiencia insolita devo dizer) E jogar ao truth and dare quando estamos todos na casa dos quase 30 ? e imitar pessoas a falar chines durante 3 horas seguidas?

Isto e o efeito psicologico que estas missoes tem em nos: ficamos parvos, de verdade. Lembro-me no Afeganistao, quando nao tinhamos nada para fazer houve um ser brilhante que se lembrou de beber 2 garrafas de Tabasco. 3 horas depois ainda estava na casa de banho a vomitar… mas pelo menos providenciou entertainment a todos naquela noite.